03 agosto 2010

Os Penpals E A Rede - Por Leandro Vieira

(Colaboração gentilmente cedida pelo compadre Leandro Vieira)

Quando a internet ajuda no vai-e-vem de envelopes, carimbos e selos


Camila Vedoveto – 20 anos, fotógrafa, budista, muito liberal de esquerda e adora cozinha vegetariana - quer conversar com você. Ela ama fazer amizades com pessoas de qualquer lugar do Brasil e do mundo, não importa sexo ou idade. Para isso, basta que você tenha um perfil no Orkut e encontre-a na busca. Adicione-a – você pode ler o detalhado perfil para garantir que o santo da moça bate com o seu – e, se ela aceitar, prepare papel, caneta, envelope e selo. Porque ela quer fazer amizade, mas por carta.

Assim como os cerca de 850 membros da comunidade da qual é dona, “Snail Mail Penpal World”, Camila usa a internet para buscar novos correspondentes. Há 3 anos praticante das missivas, ela achou no Orkut a ferramenta que faltava para “encontrar uma infinidade de brasucas de canto a canto do país. Somos uma nação enorme, nossas diferenças nos fazem muito interessantes, e é bom conhecê-las do ponto de vista de alguém que mora no lugar”. Quando tem tempo livre, costuma escrever de 2 a 4 cartas por semana. “Se eu estiver de férias, esse número dobra”. Recentemente, ocupada que estava com o vestibular, deu uma breve parada.

Conhecer gostos e costumes antes do primeiro contato em papel é uma das principais vantagens dos penpals – assim são chamados, nas entranhas do métier, os amantes dos envelopes – que usam a rede mundial de computadores para aumentar seu núcleo de amigos. Vendo o perfil, eles podem escolher os novos correspondentes de acordo com as afinidades.

Quem quer trocar idéias com pessoas de outros países não fica na mão. O interpals.net junta o pessoal que quer amizades com estrangeiros. O esquema é o mesmo do Orkut: a pessoa faz um perfil, coloca dados pessoas e vai escolhendo os amigos na medida em que eles forem agradando.

Nele você pode encontrar Natasha, de Liubliana, capital da Eslovênia - 22 anos, estudante de administração, “meu sobrenome é muito complicado”, fã de Stephen King e do time de futebol Manchester United. “Quero conhecer pessoas de grandes cidades, já que o lugar onde eu moro é um saco”, reclama. Ela tem conseguido aos poucos – as belas fotos suas que colocou no perfil ajudam a chamar atenção. Já tem um correspondente em Nova York, um em Glasgow e um em Peterborough, na Inglaterra. Só lhe falta um na Alemanha, país pelo qual tem extrema simpatia. Aos interessados, uma carta demora de 5 a 10 dias para chegar lá, e de 12 a 14 dias de lá para cá.

O lado romântico das missivas ainda cativa os jovens. Segundo os adeptos, nada substitui o ritual postal. “Eu me sinto somente mais uma quando recebo um e-mail, já que a pessoa pode mandá-lo para um monte de gente. Com a carta isso não acontece”, diz Camila, que ainda complementa: “Uma carta me faz sentir especial e única, foi escrita para mim e, por mais que seja um poema ou verso copiado, foi feita à mão, palavra por palavra”.

A carta tem o charme do papel, dos diferentes tipos de letra, os selos, os carimbos, detalhes que se perdem na web. Os sites de relacionamento servem para um primeiro contato e breves apresentações. O conteúdo das cartas é mais profundo, detalhado, intimista. O e-mail é rápido e frio – quando muito, é usado por um correspondente para avisar que uma carta está a caminho, ou que a próxima vai demorar um pouco a chegar.

Nada impede que aventureiros queiram pegar carona no esquema. No caso do Interpals, não é difícil de se encontrar gente atrás de dinheiro e casamentos arranjados para se conseguir cidadania. Dushanti Fernando, 28 anos, de Colombo, Sri Lanka – não coloca muitas informações no perfil – fala sobre outro contratempo. “Na internet, há tanta gente querendo se corresponder, de tantos lugares do mundo, que alguns ficam até perdidos. Mandam carta para umas 100 pessoas, e depois não conseguem dar conta”. Dushanti tem 20 cartas de gente que se empolgou em mandar a primeira, mas sumiu de uma hora para outra.

Algumas curiosidades são possíveis de serem sanadas. Há no Interpals 149 correspondentes do Afeganistão. Munir Ahmad – 24 anos, estuda medicina no Paquistão, fã de futebol e basquete, fotógrafo nas horas vagas – está no site há 2 anos e é um dos perfis que mais recebe visitas. “Várias pessoas me perguntam como está a situação no meu pais agora”, diz Munir. Mesmo não morando em terras afegãs há 8 anos, Munir não perde contato com amigos e parentes, e passa todas as férias em seu pais natal. A grande maioria dos seus visitantes são americanos que querem receber, pelas cartas, noticias de alguém que convive naquele clima pesado.

A cubana Olivia Angelica Medina Somoza – 25 anos, ama livros, música e cinema, gosta de rock dos anos 70 e é fã dos quadrinhos da Mafalda – também entrou no Interpals para saber mais sobre outros países, isso desde 2005. Conseguiu 10 correspondentes fixos, dos 5 continentes. “É ótimo. Posso trocar idéias sobre os meus problemas, e ajudar meus amigos com os deles”, diz Olivia. “Sei que podemos encontrar de tudo na internet, mas eu ainda não tive nenhum problema”.

Olivia diz que não há qualquer censura no serviço postal cubano. Para ela, a correspondência acaba sendo o melhor meio de comunicação com o mundo, já que a internet é de baixa qualidade. O único porém é que o Correio de lá não é dos mais rápidos – uma carta do Brasil para lá demora de 3 a 6 dias para chegar ao país, mas pode demorar outros 7 dias para chegar a uma residência, devido à logística interna.

Já outras curiosidades dão um pouco mais de trabalho. O norte-coreano Kim Yu Nim, de 34 anos, tem o perfil lotado de mensagens elogiosas ao ditador Kim Jong Ill, ou o “grande general, o lider querido”, como ele coloca. Nele, você pode cantar o hino oficial do país, “The Song Of General Kim Jong Ill”, com letra de Sin Un Ho e música de Sol Myong Sun - “Ele faz crescer a honra nacional; longe, em qualquer lugar do mundo; ele é o campeão da justiça; lutando por independência; longa vida, longa vida ao General Kim Jong Ill”. Não adianta perguntar como é a situação em seu país, ou qual é o motivo de tanta adoração – aliás, estes são os assuntos mais tratados no mural de comentários que pode ser visto por todos os visitantes do Interpals. Tudo que ele responde é: “I'm good”. E internet é o único meio de comunicação deles com o mundo, ainda assim com um controle bastante severo. Serviço postal norte-coreano, só para mensagens oficiais do governo.

levidosan@yahoo.com.br
levidosan@hotmail.com
@Levidosan


6 comentários:

Rafael Araujo disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Alguem que viu um comentario seu falando mal em um blog disse...

va se fuder sua disgraça nao tem o ki fazer fika indo no blog dos outros falar mal..sou Rafael e vi um comentario sou em um blog de um amigo seu blog ta um lixo seu pau no cu.

Anônimo disse...

agora seja puta e apague o comentario

Anônimo disse...

viu puta

Magno Nunes disse...

Uia...o mocinho ficou brvo.

Pra começo de papo não falei mal....
Fui pontual e falei apenas oq estava escrito.

Pq no vídeo o tal do Marcelo não indicava o blog...apenas falou...Enfim...

Sr. Rafael Araújo cujo link para o perfil segue abaixo. Quando fizer um comentário, lembre-se, não logar e apagar o comentário.

http://migre.me/12fAN

Camila Caringe disse...

Ah... Eu acho tão bonito qdo as pessoas mantêm o nível da conversa... Educação acima de tudo, né?

[APLAUSE]

Sobre o texto do Leandro, nada menos que excelente. É mto bom ler os textos dele periodicamente. A parceria do escritor e do blogueiro deu super certo.