27 julho 2010

O Caçador De Origens - Por Leandro Vieira

(Colaboração gentilmente cedida pelo compadre Leandro Vieira)


Ele conseguiu fazer algumas alegrias familiares, mas quando chegou a sua vez...


De onde veio sua família? Um senhor de 60 anos e “espírito de 30” - como gosta de falar – gasta sua energia correndo atrás dessa resposta. É o gaúcho falante Ivam Sandini, que desde 1976 encabeça o Projeto Imigrantes, órgão que fuça a origem de imigrantes que vieram fazer a terra tupiniquim.


Numa sala de 100m2 da cidade de Canoas, na região metropolitana de Porto Alegre, Sandini despacha para pessoas de todo o Brasil e de mais 86 países informações sobre a procedência de seus parentes. Ou, pelo menos, algumas pistas. Às vezes, quem procura o Projeto não sabe absolutamente nada do passado, nem sequer se a grafia do sobrenome está correta. “Aí nós não conseguimos adivinhar”, diz Ivam.


O negócio começou por acaso. Na década de 70, Sandini se mudou para São Paulo – ele nasceu na cidade onde trabalha hoje – para montar uma transportadora que prestava serviços a uma fabricante de sorvete. Comprou um telefone e, ao receber a lista telefônica, ficou espantado com as 2 páginas de Sandinis que encontrou. Ligou para alguns, e ninguém sabia dizer sobre a existência de parentes no Sul.


Ivam cavucou a história dos Sandinis no Brasil e descobriu que tudo começou com 2 primos que abandonaram a região de Vêneto, no nordeste da Itália, em 1878. Um foi direto para São Paulo; o outro rumou para o Rio Grande do Sul. A partir de então, nunca mais tiveram contato. Observando o interesse de amigos e conhecidos sobre a pesquisa, ele percebeu que poderia começar um negócio. Com o know-how empírico – Ivam nunca fez curso de heráldica na vida – e 300 mil dólares de investimento, Sandini parou de carregar sorvetes e abriu o Projeto Imigrantes.


O trabalho consiste em levantar, nas fichas de passageiros dos navios e nos registros de entrada de estrangeiros, todos os dados disponíveis sobre as pessoas que desembarcavam no Brasil – para isso, Ivam conta com a ajuda do Museu do Imigrante do estado de São Paulo, onde se encontram vários desses registros. O cruzamento dessas informações com aquilo que o interessado sabe de seus antepassados faz com que seja possível conhecer os ramos de uma árvore genealógica. Um banco de dados em computador feito especificamente para o Projeto centraliza e organiza as informações. “Todas as pesquisas acabam demorando, pois os registros eram precários e quase sempre sem precisão”, diz Ivam.


Nem sempre é possível a localização exata de um antepassado distante. Os primeiros Vieiras, Limas, Santos e Oliveiras (os sobrenomes mais solicitados), por exemplo, se perderam no tempo. A falta de registros dessas famílias torna impossível um resultado mais específico. E, quanto maior o tempo de chegada, menos precisa é a vinda para o Brasil. "A exceção fica com as famílias tradicionais lusitanas de linhagem observada, pois tinham vantagens, principalmente em empregos", salienta Ivam.


Já os consonantais sobrenomes alemães e poloneses sofrem com a mudança da grafia. O analfabetismo dos estrangeiros, junto com a falta de costume dos donos de cartórios da época, faziam com que os descendentes diretos desses imigrantes tivessem um sem número de sobrenomes diferentes – há casos de um mesmo sobrenome ter sido escrito de 5 formas diferentes. Ivam acha jeito nisso consultando diretamente os registros dos navios, feitos pelos capitães que manjavam das línguas nativas.


Mais um percalço: as letras dos registros de bordo eram perfeitamente legíveis - na época em que foram escritas. Nos dias de hoje, em que o Arial e o Times New Roman batem qualquer caligrafia, se tornam quase uma escrita cirílica. "Tenho em minha equipe 4 professoras antigas em idade parar identificar as letras de antigamente".


O banco de dados que organiza 2 milhões e 800 mil imigrantes cadastrados é atualizado por 3 digitadores, e foi montado por uma empresa americana cujo nome Sandini mantém em sigilo, “por exigência deles”. A parte digital ajuda a organizar as listagens que são feitas com as informações coletadas ao longo de 34 anos de Projeto Imigrantes, e que são entregues aos clientes que procuram o serviço. Nessas listagens, estão registradas até 15 informações, incluindo nome e sobrenome do imigrante, cidade de origem e destino, navio em que veio e o número da folha, no livro de bordo, em que sua viagem foi anotada. A empresa também forneceu diversas informações uteis ao Projeto, especialmente quanto às origens dos navios.


A empresa cobra, e muito - o valor também não foi revelado - para auxiliar na manutenção do banco de dados que facilita as consultas. E eles são altamente rigorosos. Para ter acesso permanente a esse banco, Ivam teve a vida vasculhada de cabo a rabo. “Quando eles falaram o resultado da pesquisa, sabiam coisas de que eu nem me lembrava mais”.


Essa engrenagem é sustentada pela cobrança dos serviços prestados pelo Projeto. O histórico dos sobrenomes é pago - custa 60 reais - e pode ser enviado, num papel especial com impressão em jato de tinta, junto com o brasão da família. Além disso,souvenirs com a marca da família estão a venda, como chaveiros, botons, pequenas armaduras medievais, porta canetas, porta jóias e afins. Tudo pode ser encomendado pelo portal do Projeto – www.projetoimigrantes.com.br.


Ivam também dá dicas de como organizar encontros de parentes. Primeiro, contata-se todas as pessoas de mesmo sobrenome que for possível. Em cadeia, elas ligam para os parentes diretos, que trazem informações sobre os antepassados, e aí monta-se o quebra-cabeça. Uma festa é o ideal para juntar todo mundo.


Várias confraternizações foram bem sucedidas, incluindo casos em que a família organizou gincanas e atividades esportivas. Entretanto, quando foi sua vez, Ivam não teve a mesma felicidade. Ele conseguiu encontrar na Itália Sandinis diretamente ligados aos primos oriundi. Esperava ser recebido com o carinho de uma nona, mas acabou encontrando uma verdadeira recepção siberiana. "Sabe aquele ditado: em casa de ferreiro, o espeto é de pau? Pois é...", lamenta. Ficou tão decepcionado que não entrou mais em contato com os parentes da terra da bota. Nem com os familiares que encontrou em São Paulo, em 1976, fala mais. “Faltou tempo”, alega Ivam.


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