17 agosto 2010

Os Nossos Pangarés - Por Leandro Vieira

(Colaboração gentilmente cedida pelo compadre Leandro Vieira)

Há algum tempo, uma expressão tomou conta dos programas esportivos brasileiros: "cavalo paraguaio". Essa espécie, pouco valorizada no mercado, inicialmente dá a impressão de ser um equino impecável que encanta platéias tanto nas apresentações de pista quanto no turfe. Mas, passa o tempo, o sangue de Assunpcion grita, o cavalo cansa no meio da corrida e refuga na hora do salto, enganando todo mundo, em especial o otário que o comprou e os babacas que apostaram nele.

A tradução para o mundo futebolístico é simples. "Cavalo paraguaio" é o time que começa um campeonato ganhando todos os jogos, ataque arrasador, defesa sólida, sucesso de público e crítica. E aí, passadas algumas rodadas, os jogadores começam a ir mal das pernas, a receita desanda, e o time cai pelas tabelas. Não demora, e aparecem alguns desses entendidos, quase sempre vindos das famosas mesas redondas, lascando: "olha aí, é cavalo paraguaio!".

Essa expressão aparentemente boba mostra como alguns brasileiros encaram nossa condição de medianos - falo aqui, claro, em representatividade mundial. Não somos os donos da fala, mas também há bastante tempo deixamos de ser um país ignorado. Estamos nos equilibrando na corda bamba entre os desenvolvidos (que amamos) e os em desenvolvimento (que menosprezamos). Reconhecemos e queremos ser reconhecidos apenas por Estados Unidos e Europa (e Europa aqui significa Alemanha, Itália, Reino Unido, França, Espanha e Portugal - ou alguém morre de preocupação com o que pensam albaneses e estonianos?!). Aos outros, bananas.

Seguida de um sorriso de deboche, a expressão faz menção as falsificações vindas dos nossos vizinhos. Não é mentira, e os entendidos sabem. O que eles provavelmente não sabem é que essa questão toca numa ferida paraguaia ainda longe de cicatrização, que envolve um passado de ditadura conchavada com gangues que não pensavam 2 vezes antes de "suicidar" quem passasse pelo caminho. Os produtos piratas trazem, além da origem criminosa, histórias de famílias destruídas por uma violência institucionalizada (aos que tiverem curiosidade, o repórter Domingos Meirelles já escreveu matérias fantásticas sobre o assunto).

Ano passado, o ator Robin Williams fez, no programa de David Letterman, um resumo das "artimanhas" brasileiras para ganhar o direito de organizar os Jogos Olímpicos de 2016:strippers e cocaína. Naturalmente, nós não gostamos. E os nossos pangarés - esses sim, de péssima qualidade - deveriam se tocar antes de soltar o tal "cavalo paraguaio". Esse "cavalo" é a nossa "cocaína" e a nossa "stripper". São palavras que tiram sarro. Palavras de gente que refuga na hora de usar o cérebro.

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