10 agosto 2010

Sobre Piadas E Topetes - Por Leandro Vieira

(Colaboração gentilmente cedida pelo compadre Leandro Vieira)

Ela tem vontade de saber o que está por trás de um cabelo bem armado


A mulher do português está à beira da morte e resolve confessar ao marido que o filho deles é de outro. Ele responde: 'Ora, pois, eu sempre soube'. Ela, surpresa, diz: 'Mas como você sabia?'. O marido responde: 'Ué, Maria, quando nós estávamos na maternidade você me disse para ir trocar o menino, que estava todo cagado!'. Ele realmente trocou o bebê. Por outro”.Esta é a piada favorita de Wilma Nogueira Prats, e fica ainda mais engraçada para ela quando é Francisco Prats, seu marido, quem a conta.

Histórias desse tipo podem ser encontradas no livro que conta a vida de Wilma. Mas não adianta procurá-lo em livrarias, sebos e afins. A obra foi produzida por Regina Rapacci Magalhães, dona da Biografias & Profecias, editora que escreve livros sob encomenda, e não está a venda. Somente 2 exemplares foram tirados – um está com Wilma, o outro com Regina.

Com capa lilás, título simples - “Wilma” -, papel chouchè, 111 páginas, cheio de ilustrações e fotos, o livro mostra os melhores momentos da vida da senhora de 69 anos, descendente de dinamarqueses, que certa feita queimou o álbum de figurinhas dos filhos Douglas e Shalimar porque um tinha a figurinha especial e o outro não, fato que gerava uma guerra entre os dois.

A produção do livro me fez saber histórias de que nunca tive conhecimento”, diz Douglas Prats, consultor de lideranças. De fala mansa e gestos discretos, Douglas conta que gostou da experiência. “Ter ouvido pela primeira vez a minha vó dizer que o nascimento da minha mãe foi o momento mais importante da vida dela foi impagável”. Dado numa reunião de família, com a presença do marido, dos filhos e dos netos, o presente não precisou de data especial para ser entregue. “Ele foi feito em reconhecimento por tudo que minha mãe fez à nossa família”, diz Douglas.

À biografia de Wilma, seguiu-se a de José Antônio Preto, português ex-dono de padaria e ex-dono de posto de gasolina. Com o mesmo estilo do livro anterior, porém de capa preta, foi encomendado por Maurício Preto, filho de José, quando o pai completou 70 anos. “Tinha uma vontade imensa de homenageá-lo em vida, e o livro com a sua biografia foi perfeito”, diz Maurício, diretor de marketing de uma empresa de lubrificação e manutenção industrial.

Depois, vieram os livros sobre Mário César Araújo, ex-presidente de um grande grupo na área de telefonia – este um livro mais robusto, com 313 páginas, encomendado por sua filha Clarisse. “Eu tinha umas reportagens, umas fotos guardadas do meu pai, e queria organizar e fazer uma recordação para ele”, diz Clarisse. Gilberto Garcia, gerente numa distribuidora de produtos para construção, encomendou um livro sobre os pais, Hélio e Mafalda, por ocasião da boda de ouro deles. “Gosto de registrar as coisas da família, achei que seria um presente inovador aos meus pais, e, ao mesmo tempo, estava resgatando a memória deles”. Todos os biografados só souberam da existência do livro no dia da entrega.

O livro de dona Wilma foi o primeiro de Regina. Tudo começou em 2006, depois de uma sequência de acontecimentos ruins. Em julho, a mãe, Maria de Lourdes Puccinelli Rapacci, morreu após sofrer de afecção dermatológica, doença cujo sintoma se dá com o surgimento de bolhas na pele que, quando explodem, deixam o lugar em carne viva. Em setembro, foi despedida do banco onde trabalhava como gestora do setor de televendas. Alegação do superior: era humana demais para trabalhar num banco. “Foi uma porrada atrás da outra. Fiquei com a alma à flor da pele”.

No mês seguinte, Regina iria se casar, mas estava perdida o suficiente para não dar prosseguimento à cerimônia. Foi aí que apareceu uma figura importante: a irmã mais velha, Ana Maria. “Ela acabou sendo minha mãe. Sem ela, o casamento não teria acontecido”, diz Regina. Em homenagem à irmã, ela escreveu um livro, baseado em diários que a mãe deixou sobre as duas.

Regina gostou, e resolveu que faria disso o seu trabalho. Começou o negócio sem nenhum tipo de estudo, ignorando a leitura de biografias e livros-reportagem – recentemente ela concluiu pós-graduação em Jornalismo Literário. “No começo eu não sabia direito que tipo de negócio era aquele, mas tive certeza de que queria fazer isso da vida”. Regina não queria serghost-writer – tinha de ser algo que ela apurasse, sem abrir concessões, mas também evitando polêmicas e pontos desagradaveis. Por conta disso, todos os biografados afirmam que ficaram satisfeitos com o resultado.

Douglas Prats foi o primeiro a receber uma proposta formal. A princípio, recusou. “Achei a proposta barata demais e mandei a Regina refazer”, lembra Douglas. Regina acatou a recomendação, mas o salto não foi tão grande: dos 3 mil reais iniciais, o livro de Wilma foi fechado por 4 mil. (Hoje, um livro custa entre 15 mil e 40 mil reais).

Uma equipe de free-lancers faz o design e a revisão. A concepção, o texto, a parte de pesquisa histórica e a escolha de fotos é de Regina, junto com o cliente. O trabalho não a incomoda. Pelo contrário. Bonita, sempre arrumada e sorridente, ela se empolga ao falar do que faz.

Regina diz que não se trata de terapia biográfica nem de um “tratado de canonização”. Mas as obras da Biografias & Profecias passam longe do rigor de objetividade encontrado em biografias convencionais. “A idéia é que o livro gere movimento”, diz. Por “gerar movimento”, entende-se: quem ler qualquer um dos livros deve tirar uma lição. “E, para mim, o que importa é a riqueza dos encontros que promovo entre as pessoas e as histórias que ouço e registro. O livro é só uma consequência”, diz.

O próprio esquema de entrevistas de Regina é diferenciado. Ao invés do tradicional pergunta-e-resposta, ela usa cartões decorados com desenhos, com os temas que serão abordados. O entrevistado escolhe o assunto de que quer falar naquela hora, e a conversa se desenvolve a partir daí. “Esse é um jeito de me aproximar da pessoa, de quebrar o gelo”. Só não usou esse método no último livro que fez, sobre um figurão do ramo têxtil, o primeiro com participação direta do biografado. “Se eu fosse conversar com ele com cartõezinhos, não ia rolar”.

Até agora, Regina só escreveu sobre anônimos, e apenas por falta de oportunidade. Um famoso em especial lhe desperta curiosidade. “Adoraria saber o que tem por trás do topete do Roberto Justus. Ele é muito certinho...”, diz. Regina escreveria um livro sobre ele, se pudesse colocar tudo que encontrasse. Justus já tem um livro, escrito por um ghost-writer. E, nele, está com o topete mais armado do que nunca.


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